quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Gestão para Sustentabilidade

Sustentabilidade by Sesi

A MAIORIA DAS GRANDES UNIVERSIDADES ESTÃO ADERINDO AO ENEM

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ): Para concorrer às vagas oferecidas pela UFRJ em 2011, o candidato deverá, obrigatoriamente, fazer a prova do Enem.
Universidade Federal Fluminense (UFF): A UFF destinará 20% das suas vagas ao Enem.
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ): O Enem será utilizado como fase única, através do Sisu.
Cefet-RJ: Deve utilizar o Enem 2010 como fase única, através do Sisu.
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF): O Enem 2010 será adotado como primeira fase do vestibular.

GPI lança intensivo ENEM com material especializado

GPI LANÇA INTENSIVO ENEM COM MATERIAL ESPECIALIZADO Em setembro, o GPI dá início a um projeto intensivo, voltado aos candidatos que irão participar do Enem 2010. O projeto terá aulas baseadas em um material elaborado pela equipe GPI, nos moldes do Novo Enem, disposto em oito fascículos divididos pelas quatro áreas do conhecimento cobradas no Exame Nacional.

Os alunos participantes também poderão ampliar seus estudos através do site: www.intensivonovoenem.com.br, que contém um vasto banco de questões, simulados on-line, conteúdos complementares, arquivos e gabaritos das provas anteriores, entre outros serviços.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Artigo de J R GUZZO

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Em modo extremo - J R GUZZO

Em modo extremo
"Lula não corrige nenhum dos erros que comete, pois acabou convencido de que não erra nunca; além disso, é estimulado o tempo todo a continuar errando"
O brasileiro comum, do tipo que não pode nomear parentes nem agregados para "cargos em comissão" no serviço público, raramente tem a oportunidade de ser bajulado. Em compensação, passa a vida pagando pelos estragos causados pela bajulação praticada em escala maciça, e todos os dias, nas esferas mais altas do governo – a começar pela esfera mais alta de todas. Não existe uma única alma, ali, capaz de admitir que possa haver algum erro, mesmo de pequeno porte, em qualquer coisa que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva diga, faça ou pense. O resultado é que Lula não corrige nenhum dos erros que comete, pois acabou convencido de que não erra nunca; além disso, é estimulado o tempo todo a continuar errando. A conta, como de costume, é paga pelo público em geral. Como poderia ser diferente, quando as pessoas com quem Lula fala e convive diariamente estão dispostas a tudo para deixar claro, claríssimo, que ele tem sempre razão, seja lá no que for?
O presidente, por sua própria iniciativa, já se acha a obra mais bem-acabada que a história do Brasil conseguiu produzir até hoje. Fica ainda mais convencido disso, naturalmente, quando é chamado por seus ministros e principais mandarins de "Nosso Mestre", "Nosso Guia" ou "Nossa Luz", e passa o dia inteiro cercado de gente cuja grande preocupação na vida é dar um jeito de dizer só o que ele quer ouvir. Ou então não dizer, de jeito nenhum, o que ele não quer ouvir. Talvez ninguém tenha resumido melhor essa questão do que a ex-ministra Dilma Rousseff, pré-candidata oficial nas próximas eleições presidenciais. Questionada recentemente sobre o que achava da situação dos presos políticos em Cuba, que Lula havia acabado de comparar com "bandidos" de São Paulo, Dilma mostrou que só pensa naquilo – como concordar com o chefe. "Vocês não vão tirar de mim nenhuma crítica ao presidente Lula", respondeu aos jornalistas. "Nem que a vaca tussa." A candidata, em suma, não disse nada sobre a liberdade em Cuba. Ao mesmo tempo, disse tudo sobre o padrão de conduta hoje em vigor no governo.
Até algum tempo atrás, com seus índices de popularidade que não param de subir, Lula parecia satisfeito em ouvir de seus auxiliares, concordando 100% com eles, que é o maior presidente que o país jamais teve. Hoje já começa a dar a impressão de que está se sentindo grande demais para caber nas fronteiras do Brasil. "Eu gostaria que todos os governantes do mundo agissem como eu ajo", disse ele numa de suas recentes viagens ao exterior. Ultimamente deu para achar que o Brasil tem condições de resolver o problema do Oriente Médio, que está aí pelo menos desde 1948, ou de convencer os aiatolás do Irã a utilizar de maneira construtiva a bomba atômica que, segundo se suspeita, estão fabricando. Imagina que a melhor maneira de amansar ditadores é ficar amigo deles, e vive ouvindo de seus colaboradores que é um grande nome para chefiar as Nações Unidas depois que acabar seu mandato presidencial; aparentemente, até agora, vem achando muito natural essa possibilidade.
É óbvio que não se pode esperar nada muito diferente disso; a Presidência da República, aqui ou em qualquer lugar do mundo, é um ecossistema voltado para a sobrevivência dos mais aptos a bajular, obedecer e dissimular o que pensam. Tome-se, por exemplo, o caso da Casa Branca, onde a palavra "transparência" tem um valor quase religioso, pelo menos no discurso oficial da política americana. Ninguém que tenha um gabinete ali dentro sairia de casa de manhã, rumo ao trabalho, prometendo a si próprio: "Hoje eu vou dizer umas boas verdades a esse Obama". Se disser, serão as suas últimas palavras no emprego – o índice de mortalidade na carreira é altíssimo para pessoas que querem, ao mesmo tempo, servir a presidentes da República e manter intacta a sua sinceridade. Na verdade, a história se repete em qualquer lugar, público ou privado, onde alguém manda. O máximo que se consegue nesses ambientes, em matéria de crítica, são comentários do tipo: "O grande defeito do chefe é que ele trabalha demais". Ou é perfeccionista demais, sincero demais, confia demais nas pessoas, e por aí afora.
O problema, nos casos de bajulação em modo extremo como a que existe hoje em torno do Palácio do Planalto, é que o governo já começa a achar que a ausência de aplauso é uma anomalia; algo tão incompreensível que só pode ser má-fé. "Eu inaugurei 2 t000 casas e não vi uma nota no jornal", espantou-se o presidente tempos atrás. É nisso que veio dar essa história de "Nosso Mestre"...

Pobres e Ricos - J R GUZZO

Pobres e ricos
"Melhor seria se houvesse menos gente empenhada em defender os pobres. Todos juram que estão a seu favor, mas se estivessem mesmo deveria haver no Brasil númeromuito menor de pobres. Já os ricos, que não têm defensor, nunca estiveram tão bem"
Promete ser uma arma muito utilizada pelo governo, ao longo da campanha eleitoral, falar sobre o perigo que os pobres deste país passariam a correr se a candidata Dilma Rousseff não for eleita para a Presidência da República. Entre as instruções a respeito do que ela deve dizer em seus discursos, ora em avaliação pelas equipes de propaganda da candidatura oficial, parece haver bastante entusiasmo com a tentativa de colar nos adversários uma intenção secreta: governar contra os pobres e a favor dos ricos. A ideia geral, aí, é deixar os outros candidatos, sobretudo o principal deles, numa situação sem saída. Se falarem em mexer no Bolsa Família, nos aumentos reais do salário mínimo e em outros benefícios, estarão mostrando sua verdadeira cara; se prometerem não mexer em nada, estarão mentindo.
A dificuldade desse tipo de plano, como de tantos outros, é combinar com o adversário para que ele cumpra a sua parte. O ex-governador José Serra, a ex-ministra Marina Silva e quem mais houver em campanha não vão anunciar, por exemplo, que acabarão com os pagamentos do Bolsa Família se forem eleitos. Por que diabo fariam uma coisa dessas? Ao contrário, vão assumir o compromisso de manter tudo como está; se quiserem caprichar, podem até dizer que o governo está pagando muito pouco e prometerem um belo aumento a partir de 2011. Nenhum candidato vai, da mesma forma, sair por aí anunciando planos de congelar os salários, cortar o crédito ou eliminar os programas de casa própria. Resta à ex-ministra, nesse caso, a alternativa de sustentar que os opositores dizem uma coisa, mas querem, na realidade, fazer exatamente o contrário. Mas aí é entrar em território incerto; acusações de mentira sempre têm duas mãos, e, numa disputa eleitoral que ameaça bater todos os recordes em matéria de tapeação, chamar o outro lado de mentiroso pode acabar em lucro zero.
Quanto aos pobres, em si, provavelmente seria melhor se houvesse menos gente empenhada em defendê-los. Todos juram que estão a seu favor, mas se estivessem mesmo já deveria haver no Brasil, a esta altura do século XXI, um número muito menor de pobres. Já os ricos, que não têm nenhum defensor, nunca estiveram tão bem quanto agora. Não há sinal de que algum deles tenha ficado mais pobre nesses últimos sete anos, salvo os que se meteram, por sua própria conta, em maus negócios – nada que tenha a ver com alguma decisão do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele mesmo, por sinal, já disse que jamais os ricos e as grandes empresas ganharam tanto dinheiro quanto em seu período na Presidência. Poderia dizer, também, que nunca a quantidade de milionários brasileiros cresceu tanto como hoje. Segundo o último balanço do banco de investimentos Merrill Lynch, que calcula anualmente o número de cidadãos com patrimônio financeiro superior a 1 milhão de dólares pelo mundo afora, o Brasil ganhou 33 000 novos milionários entre 2004 e 2008. Dá, em média, um novo milionário por hora.
Não existe nada de errado com nenhuma dessas coisas, é claro. O problema do Brasil, em matéria de renda, não é a quantidade excessiva de ricos – é que há pobres demais. Mas sem dúvida é curioso, em cima dos números atuais, que a candidata oficial acuse os opositores de pretender governar para os ricos. O que poderiam fazer de tão diferente assim, em relação ao que já vem acontecendo? Produzir dois novos milionários por hora, quem sabe, em vez de apenas um? Naturalmente, nada disso faz sentido, mas é o que acontece quando estratégias de campanha se resumem a ficar procurando, o tempo todo, alguma maneira de falar mal dos outros candidatos. Os fatos reais, no caso desse palavrório sobre pobres e ricos, têm bem pouco interesse para quem acusa. O que importa é jogar uns contra os outros, na esperança de impressionar o lado onde há mais eleitores.
Os pobres do Brasil, sabidamente, não precisam de várias coisas; entre elas estão debates desse tipo, em que a ânsia de machucar o adversário pode fazer ruído no noticiário de campanha, mas não lhes põe um real a mais no bolso. Também não precisam de solidariedade, simpatia ou "políticas de renda". O que melhora de verdade a sua situação, como ficou comprovado no mundo dos fatos, são a multiplicação das oportunidades de emprego e a estabilidade da moeda na qual o seu trabalho é pago. O compromisso que mais lhes interessa no momento, por parte de quem pretende chefiar o próximo governo, é este – crescimento sem inflação. Não é o suficiente, num país que precisa melhorar em quase tudo. Mas é indispensável.

Frases famosas de Lya Luft


A vida é maravilhosa, mesmo quando dolorida. Eu gostaria que na correria da época atual a gente pudesse se permitir, criar, uma pequena ilha de contemplação, de autocontemplação, de onde se pudesse ver melhor todas as coisas: com mais generosidade, mais otimismo, mais respeito, mais silêncio, mais prazer. Mais senso da própria dignidade, não importando idade, dinheiro, cor, posição, crença. Não importando nada.

Sou dos escritores que não sabem dizer coisas inteligentes sobre seus personagens, suas técnicas ou seus recursos. Naturalmente, tudo que faço hoje é fruto de minha experiência de ontem: na vida, na maneira de me vestir e me portar, no meu trabalho e na minha arte/ Não escrevo muito sobre a morte: na verdade ela é que escreve sobre nós - desde que nascemos vai elaborando o roteiro de nossa vida/ O medo de perder o que se ama faz com que avaliemos melhor muitas coisas. Assim como a doença nos leva a apreciar o que antes achávamos banal e desimportante, diante de uma dor pessoal compreendemos o valor de afetos e interesses que até então pareciam apenas naturais: nós os merecíamos, só isso. Eram parte de nós./ O amor nos tira o sono, nos tira do sério, tira o tapete debaixo dos nossos pés, faz com que nos defrontemos com medos e fraquezas aparentemente superados, mas também com insuspeitada audácia e generosidade. E como habitualmente tem um fim - que é dor - complica a vida. Por outro lado, é um maravilhoso ladrão da nossa arrogância./ Quem nos quiser amar agora terá de vir com calma, terá de vir com jeito. Somos um território mais difícil de invadir, porque levantamos muros, inseguros de nossas forças disfarçamos a fragilidade com altas torres e ares imponentes./ A maturidade me permite olhar com menos ilusões, aceitar com menos sofrimento, entender com mais tranqüilidade, querer com mais doçura./ Às vezes é preciso recolher-se. Obs.: Sobre ela mesma



Não tenho nenhuma religião instituída, mas tenho uma profunda visão “religiosa”, sagrada, da natureza, das pessoas, do outro.


Não quero jamais ter de morar longe dele. Aqui tudo é possível. E tanto está ainda por fazer. Obs.: Sobre o Brasil

Deus eu imagino como força de vida: luminosa, positiva, imperscrutável. Obs.: Sobre Deus

Nada, não falta nada. Ela é o que é, simplesmente, cheia de graça, desgraça, florescente, múltipla, lutando com a crise econômica que atinge também as editoras, mas, como não se escreve para ficar rico, tudo bem. Obs.: Sobre o que falta à literatura brasileira.



Não escrevo porque “valha a pena”, mas porque me faz feliz, simplesmente.

Tento entender a vida, o mundo e o mistério e para isso escrevo. Não conseguirei jamais entender, mas tentar me dá uma enorme alegria. Além disso, sou uma mulher simples, em busca cada vez mais de mais simplicidade. Amo a vida, os amigos, os filhos, a arte, minha casa, o amanhecer. Sou uma amadora da vida. O que você nunca vai esquecer? Escutar o vento e a chuva nas árvores do imenso jardim que cercava a casa de meu pai, na minha infância.

Escrevo sobre o que me assombra.

Na ambição de serem sempre jovens, as mulheres acabam perdendo o próprio rosto. São os falsos mitos da juventude para sempre. E isso também inclui a febre atual da mídia, particularmente nas revistas femininas. Só se fala como se pode ter vários orgasmos numa única noite. Só se fala em como a mulher deve agir para segurar seu homem pelo sexo, especialmente o oral. São fórmulas de um mundo conturbado, que foge ao afeto, distante de qualquer felicidade. Essa é outra coisa para o enlouquecimento. Em todo lugar, o que existe é a supervalorização do sexo. Quem não estiver fazendo sexo sem parar o tempo todo passa a ser anormal. Muita gente fica complexada porque não consegue vários orgasmos numa noite. É tudo uma imposição


Lya Luft - Biografia

"Não existe isso de homem escrever com vigor e mulher escrever com fragilidade. Puta que pariu, não é assim. Isso não existe. É um erro pensar assim. Eu sou uma mulher. Faço tudo de mulher, como mulher. Mas não sou uma mulher que necessita de ajuda de um homem. Não necessito de proteção de homem nenhum. Essas mulheres frageizinhas, que fazem esse gênero, querem mesmo é explorar seus maridos. Isso entra também na questão literária. Não existe isso de homens com escrita vigorosa, enquanto as mulheres se perdem na doçura. Eu fico puta da vida com isso. Eu quero escrever com o vigor de uma mulher. Não me interessa escrever como homem."
Lya Luft nasceu no dia 15 de setembro de 1938, em Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul.
Por se tratar de cidade de colonização alemã, as crianças, em quase sua totalidade, falavam alemão, e os livros utilizados nas escolas vinham da Alemanha. Com onze anos, Lya decorava poemas de Goethe e Schiller.
Posteriormente, estudou em Porto Alegre (RS), onde se formou em pedagogia e letras anglo-germânicas.
Iniciou sua vida literária nos anos 60, como tradutora de literaturas em alemão e inglês. Lya Luft já traduziu para o português mais de cem livros. Entre outros, destacam-se traduções de Virginia Wolf, Reiner Maria Rilke, Hermann Hesse, Doris Lessing, Günter Grass, Botho Strauss e Thomas Mann. Ela diz que traduzir é sua verdadeira profissão. E que faz tradução para ganhar dinheiro. Mas também porque gosta. Um trabalho que exige respeito. Seu desejo é aproximar o escritor estrangeiro do leitor brasileiro. Confessa que não pode ser inteiramente fiel, porque pode-se correr o risco de ninguém entender nada. Mas não faz um carnaval em cima do texto alheio, não inventa, não cria frases que não existem.
Conheceu Celso Pedro Luft, seu primeiro marido, quando tinha 21 anos. Ele tinha quarenta. Era irmão marista. Foi numa prova de vestibular. Achou-se ridícula quando pensou: esse é o homem da minha vida! O irmão marista tirou a batina para casar com ela em 1963.
Nessa paixão, começou a escrever poesia. Os primeiros poemas foram reunidos no livro "Canções de Limiar" (1964).
Tiveram três filhos: Suzana, em 1965; André, em 1966; e Eduardo, em 1969.
Em 1972 lança mais um livro de poemas, "Flauta Doce".
Em 1976, escreveu alguns contos e mandou para Pedro Paulo Sena Madureira, que era editor da Nova Fronteira. Pedro Paulo respondeu dizendo que os contos eram todos “publicáveis”. Pedro Paulo, no entanto, aconselhou Lya a escrever um romance, dizendo que ela era romancista. Dois anos depois ela escreveu "As Parceiras".
Em 1978 lança seu primeiro livro de contos, "Matéria do Cotidiano".
A ficção entrou em sua vida dois anos depois de um acidente automobilístico quase fatal em 1979. Como teve uma visão mais próxima da morte, diz a autora que começou a fazer tudo que evitava.
Primeiro foram crônicas, com o lançamento de "As Parceiras", em 1980, e "A Asa Esquerda do Anjo", em 1981. Textos amenos. Uma espécie de fingimento de que na vida tudo é bom. A morte é encarada como uma coisa normal. Mas gostaria que todos os seus amigos fossem eternos. Mesmo assim, acha a morte uma coisa mágica.
Em apenas oito anos Lya Luft sofreu duas perdas grandes demais. Dos 25 aos 47 anos foi casada com Celso Pedro Luft. Separou-se dele em 1985 e foi viver com o psicanalista e escritor Hélio Pellegrino, que morreu três anos depois. Em 1992 voltou a casar-se com o primeiro marido, de quem ficou viúva em 1995.
A escritora é conhecida por sua luta contra os estereótipos sociais. "Essas coisas que obrigam as pessoas a ser atletas. Hoje é quase uma imposição: a ordem é fazer sexo sem parar, o tempo todo. A ordem é não fumar, não beber. É essa loucura o dia inteiro na cabeça. Quem não for resistente acaba enlouquecendo. E a vida fica para trás. Hoje as pessoas estão sofrendo muito. Um sofrimento absolutamente desnecessário. Especialmente as mulheres que fazem plástica logo que vêem uma ruga no rosto. Plásticas de inteira inutilidade".
Lya Luft deixa claro que nada tem contra as cirurgias plásticas, mas contra o rumo disso tudo. "Na ambição de serem sempre jovens, as mulheres acabam perdendo o próprio rosto. São os falsos mitos da juventude para sempre. E isso também inclui a febre atual da mídia, particularmente nas revistas femininas. Só se fala como se pode ter vários orgasmos numa única noite. Só se fala em como a mulher deve agir para segurar seu homem pelo sexo, especialmente o oral. São fórmulas de um mundo conturbado, que foge ao afeto, distante de qualquer felicidade. Essa é outra coisa para o enlouquecimento. Em todo lugar, o que existe é a supervalorização do sexo. Quem não estiver fazendo sexo sem parar o tempo todo passa a ser anormal. Muita gente fica complexada porque não consegue vários orgasmos numa noite. É tudo uma imposição".
A autora diz ser uma constatação precária dizer que ela escreve sobre mulheres. Mulheres não são seus personagens exclusivos. “Escrevo sobre o que me assombra”, observa. E nisso está a infância. O importante é o compromisso com a dignidade. Toda a sua obra poderia ser resumida — como afirma — num livro de indagações.
Em 1982 publica "Reunião de Família", e em 1984 outros dois livros: "O Quarto Fechado" e "Mulher no Palco". "O Quarto Fechado" foi lançado nos E.U.A. sob o título "The Island of the Dead".
Quem é Lya Luft? Uma mulher gaúcha, brasileira, que faz cada vez mais, aos sessenta e um anos, o que desde os três ou quatro desejava fazer: jogar com as palavras e com personagens, criar, inventar, cismar, tramar, sondar o insondável. "Tento entender a vida, o mundo e o mistério e para isso escrevo. Não conseguirei jamais entender, mas tentar me dá uma enorme alegria. Além disso, sou uma mulher simples, em busca cada vez mais de mais simplicidade. Amo a vida, os amigos, os filhos, a arte, minha casa, o amanhecer. Sou uma amadora da vida. O que você nunca vai esquecer? Escutar o vento e a chuva nas árvores do imenso jardim que cercava a casa de meu pai, na minha infância". Puro maravilhamento. O que lhe causa repugnância? Preconceito, hipocrisia. Vale a pena escrever? "Não escrevo porque “valha a pena”, mas porque me faz feliz, simplesmente". O que falta à literatura brasileira? "Nada, não falta nada. Ela é o que é, simplesmente, cheia de graça, desgraça, florescente, múltipla, lutando com a crise econômica que atinge também as editoras, mas, como não se escreve para ficar rico, tudo bem". E Deus? "Deus eu imagino como força de vida: luminosa, positiva, imperscrutável". E o Brasil? Brasil cujo jeito é parecer não ter jeito. "Não quero jamais ter de morar longe dele. Aqui tudo é possível. E tanto está ainda por fazer". O que fazer para reverter esse quadro de miséria? "Que os responsáveis por isso criem vergonha na cara". Quem não merece respeito algum de ninguém? "Todos merecem algum respeito, no mínimo compaixão". Você costuma rezar? "Não tenho nenhuma religião instituída, mas tenho uma profunda visão “religiosa”, sagrada, da natureza, das pessoas, do outro". Qual é seu momento ideal para escrever? "O momento em que meu livro quer ser escrito. Mas normalmente produzo mais de manhã bem cedo. Gosto de ver o dia nascer, aqui na minha mesa de trabalho e do meu computador". Se confessa uma mulher tímida, embora não pareça.
Em 1987 lança "Exílio"; em 1989 o livro de poemas "O Lado Fatal" e, em 1996, o premiado "O Rio do Meio" (ensaios), considerado a melhor obra de ficção do ano.
Lya Luft afirma que hoje prefere ficar quieta consigo mesma. Já casou demais. Já enviuvou demais. Não se imagina mais vivendo ao lado de ninguém. Mas não quer desprezar os encantamentos que surgem por seu caminho. Lya afirma ter sido um privilégio ter conhecido e vivido com dois homens que muito lhe ensinaram. Sua visão do masculino é muito positiva. Foram três homens, na verdade, que a influenciaram e percorreram sua vida, erguendo seu rosto, seu percurso, abrindo seus rumos: seu pai, Arthur Germano Fett, que considerava um homem culto, amigo e também solitário; seu cúmplice, Celso Pedro Luft, de quem herdou o sobrenome; e Hélio Pellegrino. Três homens inesquecíveis. Que sempre vão permanecer nas palavras, nos pensamentos, nos acenos possíveis.
Não faz tarde de autógrafos, sente-se desconfortável com isso. Não gosta de discutir teorias literárias, especialmente quando se referem à sua obra. Nunca pensou em tradição literária ou, especialmente, em tradição literária gaúcha. Não quer fazer literatura regional. Não quer ser representante de descendentes. Não quer pertencer a grupo nenhum. Quer mesmo é ser livre. Quer ficar quieta no seu canto. No livro "Secreta Mirada", lançado em 1997, ela se deixou com ela mesma e discorreu sobre temas que nunca fala em discussões literárias, em entrevistas, depoimentos.
"Sou dos escritores que não sabem dizer coisas inteligentes sobre seus personagens, suas técnicas ou seus recursos. Naturalmente, tudo que faço hoje é fruto de minha experiência de ontem: na vida, na maneira de me vestir e me portar, no meu trabalho e na minha arte/ Não escrevo muito sobre a morte: na verdade ela é que escreve sobre nós - desde que nascemos vai elaborando o roteiro de nossa vida/ O medo de perder o que se ama faz com que avaliemos melhor muitas coisas. Assim como a doença nos leva a apreciar o que antes achávamos banal e desimportante, diante de uma dor pessoal compreendemos o valor de afetos e interesses que até então pareciam apenas naturais: nós os merecíamos, só isso. Eram parte de nós./ O amor nos tira o sono, nos tira do sério, tira o tapete debaixo dos nossos pés, faz com que nos defrontemos com medos e fraquezas aparentemente superados, mas também com insuspeitada audácia e generosidade. E como habitualmente tem um fim - que é dor - complica a vida. Por outro lado, é um maravilhoso ladrão da nossa arrogância./ Quem nos quiser amar agora terá de vir com calma, terá de vir com jeito. Somos um território mais difícil de invadir, porque levantamos muros, inseguros de nossas forças disfarçamos a fragilidade com altas torres e ares imponentes./ A maturidade me permite olhar com menos ilusões, aceitar com menos sofrimento, entender com mais tranqüilidade, querer com mais doçura./ Às vezes é preciso recolher-se".
Em 1999 a escritora lança o livro "O Ponto Cego".
“A vida é maravilhosa, mesmo quando dolorida. Eu gostaria que na correria da época atual a gente pudesse se permitir, criar, uma pequena ilha de contemplação, de autocontemplação, de onde se pudesse ver melhor todas as coisas: com mais generosidade, mais otimismo, mais respeito, mais silêncio, mais prazer. Mais senso da própria dignidade, não importando idade, dinheiro, cor, posição, crença. Não importando nada”.
Bibliografia:
No Brasil:
- Canções de Limiar, 1964- Flauta Doce, 1972- Matéria do Cotidiano, 1978- As Parceiras, 1980- A Asa Esquerda do Anjo, 1981- Reunião de Família, 1982- O Quarto Fechado, 1984- Mulher no Palco, 1984- Exílio, 1987- O Lado Fatal, 1989- O Rio do Meio, 1996- Secreta Mirada, 1997- O Ponto Cego, 1999- Histórias do Tempo, 2000- Mar de dentro, 2000(Todos os livros foram publicados pelas Edições Siciliano e Mandarim, São Paulo - SP)- Perdas e ganhos, 2003 - Editora RecordNo exterior:
- The Island of the Dead (O Quarto Fechado), E. U. A.
Os dados acima foram obtidos em livros da autora, páginas da Internet e em artigo publicado por Álvaro Alves de Faria, jornalista, poeta e escritor.

Entrevista com Roberto Pompeu de Toledo

Colunista da última página da Revista Veja
Entrevista realizada por José Reinaldo Marques em 23/12/05
Título: Em tempo de produção independente
Fonte: Site da ABI
Link:
http://www.abi.org.br/paginaindividual.asp?id=901

ABI Online — Quais os principais veículos em que o senhor atuou? Pompeu de Toledo de Toledo — Tive uma breve passagem pela Rádio Bandeirantes e depois fiquei um período maior na Rádio Eldorado, ambas em São Paulo. Do rádio, fui para o Jornal da Tarde e, em seguida, para a Veja. Depois, trabalhei no efêmero Jornal da República, na IstoÉ como redator-chefe, retornei à Veja, fui ser editor-executivo do Jornal do Brasil, e voltei à Veja pela terceira vez, onde fui editor de Internacional, editor-executivo e correspondente em Paris.

ABI Online — Há muita diferença entre o jornalismo de hoje e o do início de sua carreira? Pompeu de Toledo — Sim, há inúmeras. Começa pela tecnologia. O computador mudou a ecologia das redações.
ABI Online — Como assim? Pompeu de Toledo — Antes havia muito papel em cima das mesas e no chão e um barulho louco de batuque nas máquinas de escrever. Uma nuvem espessa da fumaça dos cigarros cobria o salão. Hoje reina o silêncio, não tem papel, nem no chão nem nas mesas, e não se fuma. O ambiente é quase conventual. O que é duro de engolir é que, quanto mais avança a tecnologia, mais recuam os prazos de fechamento. Não dá para entender.
ABI Online — E no que se refere aos jornalistas? Pompeu de Toledo — É comum também dizer que os jornalistas eram mais bem preparados. Mais letrados, pelo menos. Desconfio que isso possa ser papo de velho. O que o jornalismo perdeu em boemia ganhou em profissionalismo.
ABI Online — Atualmente o senhor é editor especial de Veja e mantém uma coluna na revista. Como atuam o editor e o colunista? Pompeu de Toledo — O segredo é que o editor não atua. "Editor especial" é um rótulo, só. Há tempos estou desligado da engrenagem da redação. Trabalho em casa e tenho uma produção independente. Minhas obrigações são a coluna e, de vez em quando, cada vez mais de vez em quando, uma reportagem, uma entrevista ou uma resenha de livro.
ABI Online — A globalização deu uma nova dimensão para o ato de informar e comunicar. Como o senhor avalia a comunicação globalizada que se desenvolve no mundo hoje? Pompeu de Toledo — Uma loucura. E está só começando. A parte boa é que hoje eu posso ler jornais de várias partes do mundo, via internet, na mesma hora em que os leitores locais. A parte ruim é a neurose potencial de não se desligar nunca. Quem tem um laptop e um celular está o tempo todo conectado. Esses dois instrumentos eliminaram as férias. Os franceses têm um verbo ótimo, dépayser (literalmente, "despaisar") para descrever a sensação das férias, quando você sai do seu ambiente (quer dizer, sai do seu país) e passa a viver num outro patamar. O laptop e o celular anularam o dépaysement. Eles são o seu país e estão grudados em você.
ABI Online — O nível do texto dos jornais e revistas brasileiros é bom? Pompeu de Toledo — Mais ou menos. O dos jornais e revistas principais, líderes nos maiores centros, é razoável. Mas o texto que se lê nos centros menores é, em geral, ruim.
ABI Online — Como senhor analisa a qualidade das mensagens jornalísticas veiculadas na TV, no rádio e na internet? Pompeu de Toledo — Quanto à TV, eu prefiro as emissoras a cabo; seus jornais são mais completos e descansados e contam com analistas e comentaristas. Não gosto da velocidade do “Jornal nacional”, ainda muito radiofônica para o meu gosto. Também não gosto dos tiques que são impostos aos apresentadores, como um olhar para o outro ou sorrir totalmente quando anuncia uma notícia de futebol.
ABI Online — O problema está então nos apresentadores? Pompeu de Toledo — Tem apresentadores (principalmente apresentadoras) de telejornal que parecem querer emular a Fernanda Montenegro, de tanto que acompanham a leitura da notícia com inflexões de voz, sorrisos — quando acham que a coisa é alegre —, cara fechada — quando acham que é triste —, cenho carregado — quando acham que é condenável — e assim por diante. O que é isso? Telejornal não é telenovela.
ABI Online — E o rádio? Pompeu de Toledo — Acho que, mesmo nas melhores estações, faltam critérios uniformizadores na programação como um todo e gente mais bem-informada. Parece que eles ainda pagam muito mal, daí faltarem profissionais mais qualificados.
ABI Online — E a internet? Pompeu de Toledo — É aquele festival: tem o melhor e o pior. Agora estamos na mania dos blogs. A maioria não presta. Os melhores sites são as versões eletrônicas das grandes publicações, e não é à toa que isso ocorre: jornalismo é coisa cara, que exige investimento.
ABI Online — O senhor escreveu um artigo dizendo que milhões de anos de progresso da humanidade, inclusive a invenção da escrita, são jogados fora à porta dos toaletes. Por quê? Pompeu de Toledo — Ué, será que não fui claro? Há banheiros com bonequinhos na porta, outros com peças do vestuário (cartola para o homem, luvas para a mulher), outros com objetos (cachimbo e batom), e sabe-se lá mais o quê. Os desenhos muitas vezes são indistinguíveis, provocando o risco de você errar de porta. Merece toda a minha consideração o estabelecimento em cujos toaletes está escrito "Homens" e "Mulheres". Custou muito para a humanidade chegar ao estágio da linguagem escrita. Nos banheiros, ela é revogada.
ABI Online — Como senhor analisa o comportamento da imprensa diante do atual quadro político? Pompeu de Toledo — A imprensa vai indo razoavelmente, se bem que a volúpia de passar na frente do concorrente e trazer denúncias novas atrapalhe. Por um lado, porque corre-se o risco de trazer denúncias dessubstanciadas; por outro, porque a cada nova denúncia esquece-se da anterior. É como um monte que você vai alimentando acrescentando-lhe novas camadas, e tantas que afinal as que estão por baixo ficam encobertas. A certa altura, o leitor perde o rumo e o interesse no assunto.
ABI Online — Como avalia o jornalismo investigativo no Brasil? Pompeu de Toledo — Ele existe? Ao que me consta, na maioria dos casos as coisas caem no colo dos jornalistas. Como é possível que o atual governo tenha aprontado tanto, durante mais de dois anos, sem que ninguém percebesse? Porque a imprensa não investigou.

ABI Online — As revistas semanais, principalmente a Veja, vêm sendo acusadas de publicar matérias muito sensacionalistas e mal apuradas envolvendo corrupção. O senhor concorda? Pompeu de Toledo — Não me consta que alguma das matérias tenha sido cabalmente desmentida. Esta acusação, ao que me parece, tem como alvo a questão do vôo de Cuba. A própria matéria da Veja fazia ressalvas que deixavam dúvidas no ar. Mas, depois de ver na TV o depoimento do implicado — esqueci o nome dele, acho que é Poleto ou algo assim, aquele sujeito que disse estar bêbado quando deu a entrevista ao repórter Policarpo Júnior e que foi desmentido no ato com a gravação levada ao ar, ficou claro que ele não participou de um inocente vôo trazendo três caixas de bebida.
ABI Online — A história dele está mal contada? Pompeu de Toledo — É absurdo alugar um avião para transportar três caixas de bebida. Além disso, se fosse mesmo o bêbado que alega ser, aquele sujeito seria a pessoa menos confiável para transportá-las. O meu faro indica que há um erro em considerar que o dinheiro tem origem em Cuba; deve ter origem em outro lugar. O que o episódio revela é uma rota de Cuba para internar dinheiro.
ABI Online — Muitos colegas acham que os jornais estão cobrindo a crise do governo com mais acerto e isenção do que as revistas. Qual é sua opinião? Pompeu de Toledo — Acho que isso tem a ver com a dificuldade das revistas de separar a notícia do editorial. Os jornais avançaram nesse sentido. Houve tempo em que O Estado de S. Paulo, por exemplo, “editorializava” as notícias. Hoje já se curou disso.
ABI Online — Qual o perigo da “editorialização”? Pompeu de Toledo — Eu, particularmente, me irrito muito se estou lendo uma notícia e deparo com um editorial. O mesmo acontece quando leio um editorial incompetente e deparo com uma notícia.
ABI Online — Como as revistas se comportam nesse contexto? Pompeu de Toledo — As revistas surgiram tendo como característica a contextualização da notícia, o que exige esforço de análise e um texto mais comentado. Para não cair daí no editorial, é preciso talento e vigilância.
ABI Online — O que diz da relação do Governo Lula com a imprensa? Pompeu de Toledo — Governo é assim mesmo, não gosta de imprensa. Quando Lula estava na oposição, adorava uma denúncia na imprensa. Hoje, acha que vivemos uma era de "denuncismo".
ABI Online — O senhor fez uma entrevista com o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso que acabou resultando no livro “O presidente segundo o sociólogo” (Cia. das Letras, 1998). Qual é a diferença de Lula para FHC no trato com a imprensa? Pompeu de Toledo — Não muita, se você se refere à reação contra notícias negativas. Repito: governo não gosta de imprensa. Se você se refere à acessibilidade do Presidente, FHC é muito mais acessível, não tem medo de conversar com jornalista. Lula tem.
ABI Online — Há muito o senhor vem escrevendo sobre a desigualdade racial no Brasil. Por que a imprensa brasileira não gosta de falar nesse assunto? Pompeu de Toledo — Será que não gosta? Nos últimos anos, acho que o assunto desencantou. O Brasil tem todo um passado de idílica idealização da questão das raças, a tal da "democracia racial", e isso foi difícil — ou está sendo difícil — de romper. Hoje já tem quem cuide do assunto no governo, debates como o das cotas nas universidades estão na ordem do dia... Isso vai mudando a forma de encarar o problema, e a imprensa vai junto.
ABI Online — O que o senhor acha do sistema de cotas na universidade? Pompeu de Toledo — Já fui a favor, mas hoje estou mudando de posição e simpatizo mais com a proposta de reservar cotas para as escolas públicas. Assim como não gosto da importação do Halloween, não gosto da importação das cotas. Explico-me: um e outro são produtos made in USA, nem sempre convenientes a terceiros. Nos EUA, você não escapa de um rótulo: negro, asiático, índio... Até "latino" — e estes somos nós, os latino-americanos, tratados com essa simples palavra, como se fôssemos as mais puras flores do Lácio.
ABI Online — De que maneira então o senhor acha que o assunto deveria ser tratado no Brasil? Pompeu de Toledo — É saudável as próprias pessoas poderem achar o que quiserem a respeito da cor de sua pele. O Ronaldinho acha que é branco e muito bem, parabéns para ele. O Vinicius de Morais achava que era negro, o FHC também, e parabéns igualmente.
ABI Online — Por que senhor criticou a transferência de Robinho para o Real Madrid, dizendo que “era o último exemplo da submissão brasileira ao império das metrópoles da bola”? Pompeu de Toledo — O Brasil aceitou servilmente a situação de fornecedor de mão-de-obra para a Europa no futebol. É a reprodução de um padrão colonial que aceitamos candidamente. O jogador de futebol não se julga realizado se não é contratado por um time europeu. Às vezes, nem é questão de muito dinheiro a mais. A questão é que o bonito e chique é jogar na Europa. Hoje voltamos à típica situação do subdesenvolvido, que fornece matéria-prima para ser refinada em outras praças.
ABI Online — O filósofo Olavo de Carvalho o acusa de fazer sucesso no jornalismo “opinando com desenvoltura e segurança sobre assuntos dos quais não tem a mínima idéia”. Pompeu de Toledo — Ele disse isso é? Eu não sabia. Devia estar nervoso, coitado. Eu não sei onde ele escreve.
ABI Online — Já o professor de Literatura Portuguesa Adelto Gonçalves, da USP, diz que o jornalista é um repórter da História, porque o que ele escreve hoje irá permitir ao historiador reconstituir uma época. Pompeu de Toledo — Eu concordo. ABI Online — A decisão da Justiça Federal, proibindo a Folha de S. Paulo de noticiar qualquer coisa sobre o caso Kroll, significa a restauração da censura prévia? Pompeu de Toledo — Não chegaria a tanto. Até onde posso enxergar, é um caso isolado e muito passível de ser derrubado numa instância superior.
ABI Online — O ano de 2005 foi marcado também por diversos casos de agressão e ameaças a jornalistas. Nossa democracia não aprendeu a conviver com a liberdade de expressão? Pompeu de Toledo — Essa questão merece uma distinção. Não acho que nos grandes veículos e nos grandes centros a imprensa esteja ameaçada; a liberdade talvez nunca tenha sido maior. Já no âmbito provincial e municipal, a imprensa é tacanha, dependente do poder e sujeita a toda sorte de intimidações. Precisaríamos de uma imprensa regional forte para equilibrar esse jogo. Mas, para isso, precisamos ter regiões fortes. Eis a questão.

Artigos de Roberto Pompeu de Toledo

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Revista Veja


Lya Luft


Lya Luft - Faxina nos mitos II


"A maioria das pessoas de classe média nametade da vida poderia correr menos e vivermais. Não viver adoidado, mas assimilandoo mundo, os afetos, a arte. Celebrandoa vida com suas mutações"
Como na coluna anterior, publicada há quinze dias, aqui não falo dos verdadeiros mitos, que preexistem e que a gente não cria, mas descobre, pois fazem parte do nosso inconsciente, emergem nos sonhos, nas análises, na busca de significados. Falo dos mitos inventados por nós mesmos, pela mídia, pela cultura, pelos que pretendem governar nossas mentes. Eles têm a ver com fantasias, preconceitos e medos, com hipocrisia.
Um deles, o mito da competência, antes aflição tipicamente masculina, hoje atormenta muitas mulheres. A chamada liberação feminina foi também assunção de um monte de responsabilidades, dilemas e trapalhadas viris. Está certo que este é um mundo altamente competitivo. É verdade que todos precisamos ganhar o pão nosso com o velho suor – ou o mais moderno stress. Mas, com o passar do tempo, uma vez que depois dos 40 anos é que as coisas e as cabeças começam a ficar interessantes, o mito da competência poderia ser substituído pelo desejo de sabedoria. Ambicionar algo mais e melhor do que prestígio e dinheiro.
Temos gravado a fogo, na testa e no peito, uma cruel tatuagem: "Eu tenho de". A gente tem de estar à frente, ainda que na fila do INSS. A gente tem de ser, como escrevi tantas vezes, belo, jovem, desejado, bom de cama (e de computador, é claro). A gente tem de aproveitar o mais que puder, explorar o outro sem piedade ou bancar o forte e ajudar meio mundo, mas não deve contar com ninguém para escutar as nossas dores. Porque nem lhe daremos chance: a gente tem de ao menos parecer onipotente.
A maioria das pessoas de classe média na metade da vida poderia correr menos e viver mais. Não viver adoidado, mas assimilando o mundo, os afetos, a arte, a beleza inventada ou natural que nos rodeia. Celebrando a vida com suas mutações.
Publiquei um livro que chamei "infantil", mas realmente é uma pequena fábula para qualquer idade. Uma metáfora: histórias de uma bruxa boa não muito irreal, com as falhas, divertimentos e sustos de uma pobre mortal. De momento escrevo um Bruxas Dois, falando das transformações que nos assustam e fazem crescer. Bruxinhas vão à escola e percebem que mudar nem sempre é perder; uma criança indaga por que não tem vovô, e lhe dizem que, como na natureza, também entre os humanos as coisas se transformam, persistindo de outras maneiras. Mesmo adultos, nunca nos livraremos inteiramente dos mitos castradores. Mas podemos melhorar, em muito, a nossa perspectiva, e afrouxar nossas algemas. Porque crescemos até morrer, embora em geral se pense que nos deterioramos. Caminhamos com os medos e incertezas soprando seu bafo em nosso calcanhar, por isso somos uns heróis no cotidiano e no transcendental.
Quando esta coluna for publicada, estarei na França falando da nossa cultura, da nossa literatura, do nosso país. Apesar dos desalentos, há muita coisa boa a dizer. Em português, é claro, ou, como dizia meu amado Erico Verissimo, "falando outros idiomas com orgulho do meu bom sotaque brasileiro". Também na alma, diga-se de passagem, porque a alma tem lá suas manias, que são o sotaque do seu contexto humano e cultural, as tradições, a coragem e as fragilidades do seu povo. A alma que aqui escreve, adoçada pelo tempo, nunca achou graça na inclinação dos pernósticos e inseguros de querer ser mais europeus do que brasileiros. Não "tenho de" aparentar mais do que isto que, com muita dificuldade, afinal consigo ser.

Roberto Pompeu de Toledo


Elle, o de sempre


"Quando Collor se cansou de Simon e de Sarney, sobrou para quem? O colunista que vos fala. O que disse é mentira. Mais uma vez: MENTIRA. E uma terceira: MEN-TI-RA"
Pode sentir-se defendido quem tem em sua defesa a dupla formada pelos senadores Renan Calheiros e Fernando Collor de Mello? Há defesas que ferem como ataque. Num primeiro momento funcionam, como funcionou a furibunda blitz desfechada pela dupla contra o senador Pedro Simon, na memorável sessão do Senado da última segunda-feira. A torrente de insultos, insinuações e, da parte de Collor, assustadoras caretas lançadas contra Simon intimidou o senador gaúcho a ponto de, como ele afirmaria mais tarde, ter sentido medo físico. Mas o ônus de carregar pela vida afora, e biografia adentro, o fato de ter contado com tais defensores supera o alívio momentâneo. Os senadores do PT sabem disso e conspicuamente procuram se dissociar dos referidos senhores. Já o presidente do Senado, José Sarney, não bastassem os próprios problemas, é refém de um duo cujo abraço aperta, aprisiona e sufoca como tenaz.
O senador Collor superou-se, naquele dia, na utilização dos velhos recursos em favor do novo papel de injustiçado e sofredor. Buscando inspiração no aparelho digestivo, ordenou a Simon que "engolisse" as próprias palavras e "as digerisse como julgasse conveniente". Chamou o honrado senador de "parlapatão". E enquanto isso armava seu impressionante repertório de expressões fisionômicas e exalações corporais, um conjunto que, querendo sublinhar indignação, acaba por revelar um perturbador descontrole. A respiração era pesada como a do touro ao investir contra o pano vermelho. Repetiam-se os estranhos olhos fixos de outras ocasiões. E a alturas tantas, quando se cansou de Simon e de Sarney, sobrou para quem? Quem? Quem? O colunista que vos fala. Disse ele que "o jornalista chamado Roberto Pompeu de Toledo, que costuma sujar a última página de uma revista local, se não me engano a VEJA", procurou o ministro Ilmar Galvão, encarregado, no Supremo Tribunal Federal, de relatar o processo contra ele, Collor, à época do impeachment, e lhe propôs: "Ministro, declare a culpa do Fernando Collor que nós daremos ao senhor a capa e as entrevistas de páginas amarelas da revista". O ministro, indignado, teria expulsado o interlocutor de seu gabinete.
Deus do céu, quanta pretensão, num pobre jornalista, achar que a efêmera glória do bom tratamento num órgão de imprensa pudesse influenciar o julgamento de um ministro do Supremo! Collor acrescentou que Roberto Pompeu de Toledo não poderia desmentir tal episódio. Pode sim. É mentira. Mais uma vez: MENTIRA. E uma terceira: MEN-TI-RA. A conversa que na época o colunista teve com Ilmar Galvão não teve nunca, jamais e em tempo algum o caráter de (ingênua) negociação do julgamento do ministro contra possível tratamento privilegiado em VEJA. Mesmo se, enlouquecido, o jornalista quisesse fazê-lo, não teria poderes, como não tem agora, nem nunca teve, de dispor da capa ou das páginas amarelas da revista. Seu único e singelo objetivo era informar-se. Claro está que se não houve o principal – uma tentativa de negociação – também não houve o secundário – a expulsão do gabinete. Em todo caso, registre-se que o cinematográfico desfecho pretendido pelo senador é outra mentira, MENTIRA, MEN-TI-RA. A entrevista transcorreu em clima de cordialidade.
Como encerrar este artigo? Primeira hipótese: dizer que sujar páginas por sujar páginas, perito mesmo na especialidade é o ex-presidente – no caso, sujar as páginas da história do Brasil. Sentencioso demais. Se os leitores permitem a falta de modéstia, o colunista gostaria na verdade é de congratular-se consigo mesmo. Ao contrário de Sarney, ele não tem Collor como defensor. Tem como acusador. É uma honra.
•••
Por falar em fisionomia, e para arejar o ambiente com caso oposto ao da carranca oferecida por Collor a Simon, a fisionomia do momento, no Brasil, é a do vice-presidente José Alencar. O fato de ele estar impelido a correr de internação em internação, e de operação em operação, dentro daquilo que se convencionou chamar de "luta" contra o câncer, é o de menos. Como ele próprio alega, não dispõe de alternativa. Muitos também o fariam – e fazem –, especialmente quando têm recursos para pagar o tratamento. O que impressiona é a serenidade com que enfrenta o infortúnio, manifestada no sorriso e no jeito bonachão que estampa nas entradas e saídas do hospital. Seu comportamento, na mais decisiva das horas que espera um mortal, cativou o país. A ele seria dedicada a coluna desta semana, se o homem das Alagoas não se interpusesse no caminho. Fica o registro.